“Os jornalistas não gostam de ser incomodados e não querem reunir entre si”

Orlando César, João Fonseca, João Figueira e Carlos Camponez discutiram problemas éticos e deontológicos da profissão de jornalista no Anfiteatro IV da FLUC.

Para o responsável pela Agência Lusa em Coimbra, João Fonseca, o maior problema actual dos jornalistas é o mau funcionamento dos Conselhos de Redacção. Na óptica do participante nesta mesa redonda, o mais grave é o facto de “os directores não quererem reunir com os seus jornalistas, os jornalistas não gostarem de ser incomodados e não quererem reunir entre si”. Na perspectiva do interveniente, existe cada vez mais “competitividade e lógica individualista” por parte do profissional de comunicação social. O orador declarou que lhe pedem para “escrever rápido e dar um bom título”, ao invés de o solicitarem para “escrever bem e com princípios”.

“O Sindicato defende a criação de Conselhos de Redacção”

Na opinião de Orlando César, presidente do Conselho Deontológico do Sindicato de Jornalistas, os Conselhos de Redacção encontram-se “adormecidos”, mas esta tomada de posição apresenta-se como “uma nova atitude”. O antigo jornalista esclareceu que esta atitude se trata de uma “reivindicação” que funciona como “defesa” para os profissionais da comunicação social. Para o sindicalista, seria essencial criar um “mecanismo interno” no sentido de “garantir autonomia e independência”, sendo que o ponto principal do problema é o facto de os conselhos de redacção serem “escassos” e “não funcionarem”. João Figueira, antigo jornalista do Diário de Notícias, afirmou que, ”quando as instituições não funcionam, os “media” são as primeira e última tábuas de salvação da sociedade”. Na opinião do docente da Faculdade de Letras, cada notícia “produz efeito” e, lembrando o caso Domingos Paciência na Agência Lusa, quando falha a fonte próxima, o culpado deverá ser o “jornalista e não a fonte”, acrescenta.

“É preocupante o desprezo pelo direito da informação”

O especialista em matéria deontológica Carlos Camponez apontou como factores preocupantes a “crescente desvinculação dos jornalistas ao Sindicato”, bem como a “falta de responsabilidade dos jornalistas no seu trabalho e a perda da sua autonomia”. No entendimento do professor, a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) é “limitada” e tem falhas, lembrando que “jornalistas do Sindicato não podem ter assento na ERC”, o que se traduz numa situação “absurda”. Em relação ao Sindicato dos Jornalistas, o orador referiu que existem estereótipos pré-concebidos, tais como ser um órgão “controlado por comunistas” e “serem sempre os mesmos” nos cargos de chefia.

Por André Freixo e Tiago Teixeira

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